PENÍNSULA DE MARAÚ: ITACARÉ x BARRA GRANDE A PÉ - 2018

 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

            O Estado da Bahia possui uma longa faixa litorânea, com centenas de praias, que aparentemente parecem ser iguais. Mas não! Cada praia possui a sua particularidade. Sempre me interessei em paisagens litorânea, sendo que o simples fato de caminhar e observar os detalhes das praias, além das suas margens e faixas extensas de areia, já chama a minha atenção.

            A atração às paisagens do litoral da Região Sul da Bahia se iniciou no ano de 2012, quando estive acompanhando de minha companheira Graziela e alguns amigos  no distrito de Barra Grande, que está localizado ao Norte da Península de Maraú. Nesse período tive a oportunidade de fazer uma curta caminhada litorânea de 7 km, aproximadamente, partido do próprio distrito de Barra Grande e finalizando na localidade de Taipus de Fora, que está inserido no próprio município de Maraú/BA. Essa curta caminhada despertou o meu interesse em planejar e executar longas caminhadas litorâneas, com paradas e acampamentos na própria faixa de areia.

            No processo de preparo e ganho de experiência comecei as práticas de caminhadas litorâneas. A primeira foi no ano de 2013, onde fiz o meu primeiro teste ao caminhar e da a volta, a pé, na Ilha de Boipeba, totalizando uma caminhada por mais de 12 horas, exigindo disposição e resistência[1]. Neste primeiro teste, apesar de me desgastar muito e ter problemas nos pés, por ter feito a caminhada descalço, a volta na ilha foi um sucesso, me dando uma sensação prazerosa dessa experiência significativa aos meus objetivos. Para além disso, no mesmo ano executei mais duas caminhadas na Ilha de Tinharé, precisamente na localidade de Morro de São Paulo e seu entorno. Em 2014 foi a vez de  Garapuá, ambos pertencentes ao município de Cairu/BA, localizados ao Norte da Ilha de Boipeba.[2] [3] Realizei ainda outras caminhadas litorâneas, destaco para a tentativa na volta da Ilha dos Frades[4] e as praias do município de Itacaré/BA, conhecendo e observando belas paisagens e as suas praias "escondidas" (não cheguei a relatar).

            Nas minhas viagens, antes da prática, se prioriza o planejamento. Nessa travessia pela Península de Maraú não foi diferente. Umas das minhas primeiras ações são as análises dos mapas, imagens de satélites, documentos e relatos. Pois! a partir dessas etapas iniciais vou chegar a premissa na execução do trecho delimitado.

            Um dos fatores relevantes em uma grande caminhada litorânea é a análise da tábua da maré, para se prever e vencer alguns "obstáculos", a exemplo: foz do rio, faixas de areias curtas e rochosas, escarpas de falésias e a costa em si.

            Com essas experiências resolvi planejar e executar um desejo pessoal em fazer a travessia, a pé, da Península de Maraú/BA, do Sul ao Norte, partindo da foz do Rio de Contas/BA e finalizando no distrito de Barra Grande. Conversei com Graziela, que topou na hora em fazer companhia nesse desafio.         

CHEGADA A ITACARÉ/BA E OS DETALHES DO ROTEIRO.

            Dia 31 MAI. 2018 fui liberado mais cedo do trabalho, aproveitando para ganhar um dia para deslocar até o município de Itacaré/BA. Como não possuo veículo e dependo do transporte intermunicipal, preciso sair do município de Salvador/BA e seguir até o município de Itaparica/BA, onde sai ônibus para o município de Itacaré/BA. O último horário é das 16:00, pela empresa Cidade Sol.

            Embarquei no Ferry Boat  Rio Paraguaçu , no horário das 15:00. A travessia do terminal de São Joaquim até Bom Despacho é entorno de 1 hora. Independente, o ônibus espera o ferry boat chegar para vender as passagens e seguir viagem. As 16:00 cheguei e comprei a passagem na "muvucada" fila do guichê da empresa Cidade Sol. A passagem custou R$ 42,00, com previsão de 5 horas de viagem.

            As 16:30 o ônibus partiu com destino a Itacaré/BA,  a linha tem o destino final o próprio município. A primeira parada é no município de Nazaré/BA (conhecido popularmente pelo nome de "Nazaré das Farinhas"),  onde Graziela aguardava para embarque. Me encontrei com Graziela e seguimos com destino ao Itacaré/BA, passando pelos municípios de Valença/BA, Taperoá/BA, Nilo Peçanha/BA, Ituberá/BA, Igrapiúna/BA, Maraú/BA e por fim Itacaré/BA. A duração foi mais de 5 horas, chegando mais das 21 horas.

            Na Cidade ficamos no Hostel Casarão Verde, localizada em frente a praia da Concha. A proprietária é conhecida de Graziela e quando vamos ao município de Itacaré/BA sempre ficamos hospedados lá. Pagamos uma diária e fizemos os últimos ajustes .

            Conferimos as mochilas, listando a alimentação, quantidade de água potável, equipamentos e ferramentas. Essa análise e conferência é importante, pois se esquecer algo simples da para solucionar estando no Centro da Cidade.            

            Particularizando a mochila em si, a minha preocupação e de Graziela foi em relação a água potável, devido a fato de nos hidratar e cozinhar durante uma caminhada de até 03 dias. Fizemos uma análise e decidimos levar 9 litros de água, sendo que cada um vai levar 4,5l em 03 garrafas de 1,5l. Essa água é para hidratar e cozinhar. O banho decidimos ser no mar ou na foz de algum rio (uma vez na vida não mata ninguém), além de lavar equipamentos ou algo especifico que necessite de água. A água doce, potável, só será em uma extrema emergência, devido a prioridade do seu uso para hidratar e cozinhar. Existe a possibilidade de adentramos em alguns rios, a depender, a fim de verificar se é possível se banhar ou até mesmo utilizar a água para cozinhar.

            A noite sair com Graziela e fizemos uma curta caminhada no movimentado e cheio Centro da Cidade de Itacaré/BA. Passando na foz do Rio de Contas encontramos um canoeiro que faz a travessia entre as margens do rio. Seu nome é Deilton e o valor cobrado foi de R$ 20,00 pela travessia. Acertamos tudo e combinamos as 07:00 da manhã do dia seguinte.

 

DIA 01: DA TRAVESSIA DA FOZ DO RIO DE CONTAS AO ACAMPAMENTO "FORÇADO" NA PRAIA DO ARANDI.

- Praia da Concha

            Acordei com Graziela as 05:00 da manhã com o céu nublado e ventos fortes, me deixando muito cismado com o tempo. Consultei a previsão e a possibilidade de chuva na Península de Maraú estava de 70%.

            Tomamos café, arrumamos o quarto, as mochilas e partimos rumo a praia da coroa, que está bem a frente do casarão verde.  As 06:30 estava na praia conversando com o Deilton, canoeiro que fará a travessia entre as margens do Rio de Contas até a praia do pontal, final  da Península de Maraú. As 06:50 a canoa estava pronta e atravessamos a foz do Rio de Contas, durando pouco mais de 05 minutos.

Imagem 01 - Fael e Graziela na canoa para a travessia na foz do Rio de Contas. Itacaré, Bahia , 2018.


- Praia do Pontal

            Na praia do pontal iniciamos a caminhada na areia fofa, sendo que a maré estava cheia e com previsão de recuo as 10:00. As ondas quebrava com violência na faixa de areia, me assustando para encarar um banho (cismei até molhar o pé). O inicio forte da caminhada na areia fofa e as mochilas pesadas exigiram esforço nas passadas com a sapatilha nova neoprene que comprei para mim e Graziela, custando caro para nós, pois os pés começaram a ferir e "abrir calos". Fomos obrigados a retirar e continuar a caminhada descalços.

            O tempo fechou e uma grande nuvem cinza e carregada de chuva vinha do mar em direção a costa. Avisei a Graziela que há uma probabilidade muito alta de chuva forte na costa.  



Imagem 02 - Graziela iniciando a caminhada na areia fofa na Praia do Pontal . Itacaré, Bahia, 2018.


Imagem 03 - Fael e Graziela iniciando a caminhada nas areias da Praia do Pontal . Itacaré, Bahia, 2018.


- Praia de Piracanga

            A Caminhada prosseguiu exigindo muito esforço de mim e Graziela. O "sangue frio" e as mochilas pesadas, além da areia fofa e os fortes ventos se tornavam grandes obstáculos para nós.

            Seguimos descalços até a foz do Rio Piracanga, uma distância de quase 8km, onde fizemos uma pausa. Tirei a mochila e fui atravessar a foz do rio, pois a maré estava cheia e violenta, me deixando bastante cismado. Resolvi da uma pausa e observar para ir no melhor caminho a seguir.

             A foz do Rio Piracanga é pequena, mas como a maré estava muito violenta e cheia, a correnteza das águas "puxava" com bastante força.  Dei sorte em encontrar um pedaço de madeira e fui com bastante cautela nas pisadas. Teve um momento que pisei e o pé afundou, me dando um grande susto, mas á água não chegou a me cobrir, limitando-se nos meus ombros.

            Engraçado que tinha dois rapazes e uma mulher na outra margem, não sei se era hospedes ou proprietários. O fato que eles observaram e depois deram as costas. Pensei em até chamar e pedi uma orientação de qual caminho a seguir, mas percebi que não estavam afim de ajudar ou dialogar. Nenhuma surpresa da vila de piracanga e de seus frequentadores "naturalistas".

            Cheguei do outro lado da margem e regressei pelo mesmo caminho, realizando a travessia em formato de um "s". Carreguei a mochila e chamei Graziela para seguir atrás de mim, atravessando a foz do Rio Piracanga com a água cobrindo a barriga, sem grandes dificuldades. Ressalto que deve ter atenção na passada e na pisada, exigindo força, devido a correnteza lhe "empurrar" em direção ao mar. Com o peso da mochila fica um pouco "difícil de se equilibrar

            Passava das 08:00 quando chegamos no outro lado da margem do Rio Piracanga, fazendo uma parada a fim de se hidratar e observar a paisagem. A praia não diferencia muito da anterior, as ondas fortes quebrando com força na faixa de areia e o mar agitado não condicionava para se banhar. Além disso, a grande nuvem cinza estava cada vez se aproximando da costa. Um pouco atrás da faixa de areia está a vila piracanga, que é famosa por hospedar "naturalistas" de classe alta. 


Imagem 04 - Fael observando a foz do Rio Piracanga após a travessia. Maraú, Bahia, 2018.


- Praia do Aimbim

            Após a observação dos detalhes da Praia de Piracanga seguimos na caminhada, no decorrer da andada percebia que meu pé começava a ter pequenos cortes com o atrito da areia fofa e pesada da praia. Para piorar, a grande nuvem cinza avança e começa a chover e ventar forte, condicionando mais um obstáculo. Graziela e Eu não conseguíamos visualizar alguns metros a frente devido aos forte e grossos pingos de água lançados pelo vento em nossos rostos. Uma moto passou e quase me atropelava, pois o rapaz estava com a visualização comprometida e em alta velocidade. Infelizmente as faixas de areia da Península de Maraú está servido de rota para motoqueiros e quadrículos, sendo que a maioria dos seus condutores são pessoas despreparadas.

            Atravessamos mais uma foz de rio, precisamente o Rio Guaibim, dessa vez com muita tranquilidade, sendo que a largura entre as margens não chegava a 10 metros, e com a maré recuando ficou mais tranquilo em atravessar. Um fato interessante dessa foz é que parece um "mini-delta", pois ela não é única. A foz quando se aproxima da praia acaba se desdobrando e gerando três cursos de rio que se encontra com o mar, de leito muito fino. Fizemos uma pequena pausa para Graziela se banhar e lavar os pés, pois estava com muitos calos na sola.

            Com o inicio da maré baixa, por volta das 13:00, chegamos a praia do Aimbim. A chuva ficou bem mais forte, atrapalhando a visibilidade, e as rajadas de vento e os raios me deixaram assustado. Além disso, comecei a senti muito frio devido está muito encharcado.  Chamei Graziela e opinei em montar acampamento e aguardar, pois a chuva não parece ser passageira.

            Poucos metros visualizei uma pequena "tenda" danificada, feita com palhas secas de coqueiros e algumas toras de madeira, além de uma pequena mesa.  Chamei Graziela e disse: - "vamos montar a barraca ali".

            Montei a barraca com muita dificuldade, devido ao vento forte e a chuva. As 13:30, após 24 km de caminhada, o acampamento foi montado, muito cedo e fora do planejamento. No nosso roteiro o acampamento seria entre as praias do Arandi e Saquaíra, que deve estar uns 5 km adiante, mas não foi possível.

            Durante o planejamento a previsão de chuva durante a caminhada era considerada. Entretanto, não pensava que poderia ser uma tempestade como foi concretizada. Nesse período, mesmo com risco de chuva, era o único momento oportuno que poderia fazer essa travessia, junto com Graziela, viemos preparados para esses imprevistos.

Imagem 05 - Acampamento "improvisado" na Praia do Aimbim. Maraú, Bahia, 2018.



            Mesmo com a forte chuva conseguimos cozinhar e fazer o almoço na varanda da barraca, uma modelo NEPAL AZTEC. O cardápio foi arroz com Feijão de caixa, lentilha, ervilha, milho e batatinha. Utilizamos uma das garrafas de água de 1,5 para cozinhar. Sem trégua na chuva deitamos na barraca e aguardamos, pegando no sono. Acordei com Graziela por volta das 16:30 e a chuva forte continuava, não tinha condições de sair, nem para urinar. O jeito foi deixar os pratos do lado de fora e lavar no dia seguinte, pois estava perto de escurecer . A noite um casal saiu de uma das luxuosas casas de praia com uma motocicleta, bem próximo a barraca e com o farol alto, nos dando um maior susto.       



DIA 02: DA CHUVA A TORTURA: PARTIDA DO AIMBIM A CHEGA EM TAIPUS DE FORA.

 

- Praia de Algodões

            Apesar da forte chuva, tanto Eu e Graziela obtivemos uma boa noite de sono. No inicio da noite deixamos as mochilas cargueiras preparadas com a capa e dormimos com a capa de chuva em caso de qualquer eventualidade . Os fortes ventos e os raios eram de assustar, me deixando atento e um pouco preocupado. A barraca resistiu bem, apesar de certos momentos da umas "balançadas" e ficar "toda torta", sendo que já é a terceira vez que a NEPAL AZTEC de Graziela resiste aos fenômenos climáticos nos acampamentos em que ficamos[5].

 

Imagem 06 - Fael e Graziela acampados na Praia do Aimbim. Maraú, Bahia, 2018.


            As 05:40 levantei e nem tirei a capa, pois a chuva continuava com muita intensidade. Regressei e tentei arriscar em desmontar a barraca, mas ia molhar os equipamentos e o forte vento atrapalhava. Aguardei com Graziela por mais de 1h quando a chuva veio a ficar mais fraca. Aproveitei  a oportunidade e desmontei o acampamento, posteriormente preparando o café para da seguimento na caminhada. O tempo neste segundo dia está com cara de permanecer chuvoso, me deixando um pouco desanimado. 


Imagem 07 - Primeiras horas da manhã do dia 2 na Praia do Aimbim. Maraú, Bahia, 2018.


             Prosseguir a caminhada com Graziela na praia deserta e pouca visibilidade, sobre garoa e fortes ventos. Neste segundo dia prosseguimos a partir do km 24 da costa leste da Península de Maraú. A maré estava vazia, tornando uma condição favorável para caminhada descalço na faixa de areia, porém os meus pés e o de Graziela estavam com o solado "esfarelando", condicionando ardor e incomodo. A sapatilha não tinha condições de calçar, por está nova, fazendo calos e um pouco apertada. Pensei que poderia "alargar", mas foi ilusão. Pouco mais de 10 minutos a chuva diminuiu a intensidade e aproveitamos para apressar o passo, chegando na praia de Algodões.

            Uma das mais badaladas da península, a Praia de Algodões se localiza no vilarejo de nome homônimo a praia. Tem uma "fama" de ser uma localidade seletiva e exclusiva a frequentadores com um poder econômico elevado. Famílias de classe média alta, principalmente oriundas das regiões Sul e Sudeste do Brasil, chegam com seus jatinhos particulares para se instalar em luxuosas e escondidas casas. Em relação a praia possui as características das demais, com ondas, poções de rochas e maré agitada. A chuva forte deixou o mar revolto e talvez condicionando a quebrada forte das ondas no banco de areia.

Imagem 08 - Trecho inicial da praia de Algodões com o tempo fechado. Maraú, Bahia, 2018.



            Mesmo com um chuvisco um casal na praia, em baixo de uma amendoeira, parecendo que estava observando a mim e Graziela carregando as mochilas cargueiras e encharcados com a chuva, estavam atentos a nós. Poucos metros deles observei um coqueiro baixo, carregados de coco. Parei, puxei o facão e arranquei mais de 10 cocos, bebendo todos com Graziela. Acabei deixando alguns no chão e mencionei para eles, caso se interessassem nas frutas.

Imagem 09 - Fael na caminhada na Península de Maraú. Maraú, Bahia, 2018.


- Praia de Arandi
            Atravessamos mais uma pequena foz de rio, que não conseguir identificar o nome, e em poucos quilômetros chegamos a Praia do Arandi ao ponto de nem perceber. Uma placa artesanal me ajudou na identificação da praia. O local é uma pequena vila, ao ponto de se contar as casas. Um fato interessante foi a presença de um cão, parecendo da raça pastor alemão, sozinho na praia. Quando o animal observou a mim e Graziela, veio em nossa direção e fez menção de querer brincadeira. Naquele momento estava muito cansado e minha coluna começava a doer, além dos pés que estavam com a pele caindo e criando feridas. Mesmo com esses impasses tirei a cargueira das costas e comecei a brincar com o cachorro, que é bem dócil e manso. Se dependesse dele ficaríamos ali o dia todo. 

Imagem 10 - Fael e o cachorro na Praia do Arandi. Maraú, Bahia, 2018.


Imagem 11 - Fael e o cachorro atravessando a foz do rio na Praia do Arandi. Maraú, Bahia, 2018.



       Um diferencial da Praia do Arandi, para as que já passamos (Pontal, Piracanga, Aimbim e Algodões) é que com a maré baixa proporciona a formação de  "piscinas naturais" com águas cristalinas, ótimo para mergulhos e observação de peixes. Infelizmente o tempo estava fechado, a garoa voltava a se transformar em pancadas de chuva, impedindo qualquer possibilidade do banho de mar. 


- Praia de Saquaíra

            Minha coluna começou a doer e toda hora fazia pequenas pausas e me agachava para "aliviar" o incomodo. Graziela ficou um pouco preocupada porque não é comum da minha pessoa ficar reclamando de dores quando faço trilhas ou caminhadas. Como estava recentemente com o joelho direito operado, devido a uma cirurgia por artroscopia, as minhas paradas preocupava ainda mais a Graziela. Acredite! O joelho não estava incomodando nesses dois dias.

            Graziela observou que seu pé estava com partes em "carne viva" devido as feridas abaixo e o contato com a areia molhada. Quando visualizei a preocupação mudou de lado e cheguei a pensar e sugerir o cancelamento da travessia e abortar a missão.

Imagem 12 - Fael e as paradas devido as dores na coluna. Maraú, Bahia, 2018.


          Sem concordância seguimos num ritmo mais devagar, devido as minhas paradas e as passadas curtas de Graziela, chegando a Praia de Saquaíra. O surpreendente foi observar um bar aberto, mesmo com a forte chuva.

            Uma pequena tenda de palha seca estava montada um pouco afastada da praia e dos bares. Fiz uma parada para sentar e observar o pé de Graziela. A pele do pé parecia farelo, só era passar o dedo e esfarelava. Não sei se ela estava escondendo as dores, mas Graziela estava determinada em finalizar a caminhada em Barra Grande.

            Devido as condições, e por termos mais um dia disponível para qualquer eventualidade, sugerir passamos mais uma noite acampados, tendo como base a localidade de Taipus de Fora, distante, mais ou menos, uns 10 km de onde estávamos.  Graziela combinou nessa proposta, até mesmo pelas condições do tempo e a gravidade que estava ficando os seus pés com as feridas.


Imagem 13 - Graziela finalizando os últimos ajustes na mochila. Maraú, Bahia, 2018.


- Praia do Cassange

             A chuva prosseguiu e as precipitações foram caindo com maior intensidade. A forte chuva voltou a atrapalhar a caminhada e a visibilidade. Contemplar a paisagem era impossível, o objetivo é chegar o mais cedo possível em Taipus de Fora.

            No planejamento estava a parada para conhecer, ou até mesmo acampar, na lagoa do cassange, mas com a forte chuva é inviável. Caminhamos os mais de 5 km da imensa praia, parecendo que não tinha fim. O tempo fechou e escureceu de uma forma tão surpreendente que o horizonte não podia ser visto, infelizmente não deu para apreciar nada da imensa Praia do Cassange e a bela lagoa que está a poucos metros da faixa de areia.

            Nesse trajeto, a todo momento, perguntava a Graziela como se sentia, pois abaixo dos seus pés as feridas estavam se agravando com o atrito da areia. A caminhada descalça era obrigatória e a menos dolorosa, mas ela foi forte e resistiu, superando as dores.

Imagem 14 - Graziela na Praia do Cassange. Maraú, Bahia, 2018.


- Praia de Taipus de Fora

            Quando contornei a imensa praia do Cassange e visualizava as mansões em beira mar, já era o aviso que Taipus de Fora estava próximo, nos deixando com mais disposição. As 11:30 chegamos no povoado e nos instalamos em um dos poucos camping que estão disponível no local.  Dava até para seguir e finalizar no distrito de Barra Grande, o ponto final desta caminhada, mas o pé de Graziela estava muito ferido e o meu também, ocasionando a tomamos essa decisão de acampar mais um dia em Taipus.

Imagem 15 - Fael na foz de um pequeno Rio que delimita as praias do Cassange e Taipus de Fora. Maraú, Bahia, 2018.

           

     Taipus de Fora é uma localidade muito conhecida do município de Maraú/BA, onde se concentra indivíduos e famílias da classe alta do Brasil.  Pessoas midiáticas costumam escolher Taipus de Fora para passar férias ou até mesmo passear. Apesar das imensas mansões, a estrutura urbana é precária e deixa a desejar. Os nativos sofrem bastante com o descaso, ficando perceptível o grande contraste e o antagonismo sócio-espacial daquela localidade.

                        Imagem 16 - Graziela na praia de Taipus de Fora. Maraú, Bahia, 2018.


          Ao me instalar no camping  enfrentamos o desafio em comprar alimentos para cozinhar, pois os mercadinhos de Taipus de Fora ficam muito longe e a estrada vicinal estava alagada, ao ponto da água está cobrindo os pés. Mesmo com esses obstáculos, depois de um banho de água doce, colocamos nossos pés na água barreta e de lama, seguindo até o Mercado. Compramos algumas coisas e retornamos, passando a tarde e a noite no camping.


DIA 03: A CHEGADA EM BARRA GRANDE NA COMPANHIA DO SOL.

- Praia dos Três Coqueiros

            A noite em Taipus de Fora foi tranquila, o cansaço colaborou muito para uma noite de sono pesado. Além disso, o vilarejo e a praia de Taipus de Fora não estavam apropriados para serem desfrutadas, a chuva da manhã e a tarde deixaram as estradas alagadas, mar revolto e tempo muito fechado, sem condições. Eu e Graziela não ficamos decepcionados, nem tristes, pelo fato de já ter conhecido o local e curtido as suas belezas debaixo de um forte sol. O objetivo é a caminhada e a conclusão do percurso na Península de Maraú.

            Neste terceiro dia, precisamente 03/06/2018, o dia amanheceu melhor, com um sol    “acanhado” querendo da a “sua cara”. Poxa! Porque o sol não apareceu no dia 02? Queria desfrutar a área da Praia do Cassange e sua grande lagoa, desfrutar um banho na Praia de Algodões e Saquaíra, enfim.

            Desarmei acampamento com Graziela, tomamos café e seguimos a caminhada, iniciando as 09:00 da manhã. Antes de da seguimento priorizamos cuidar dos solados dos pés, pois as feridas davam medo, principalmente os pés de Graziela. Mesmo com esse “impasse”, Graziela estava animada para concluir.

Imagem 17 - Fael e Graziela na praia de Taipus de Fora. Maraú, Bahia, 2018.


           De Taipus de Fora até Barra Grande da 7 km, trecho curto quando se trata em uma caminhada pela faixa de areia. A maré estava baixa e isso condicionou a um “melhor conforto” na caminhada.

            Mesmo com o sol, os fortes ventos frios não davam animo ou condições para se banhar no mar. Saímos de Taipus e não observamos banhistas até chegar em Três Coqueiros. Nesse trecho é possível observar construções que pertence a marinha e é possível observar o farol. 

Imagem 18 - Fael na praia de Taipus de Fora. Maraú, Bahia, 2018.


Imagem 19 - Graziela a caminho da praia de Três Coqueiros . Maraú, Bahia, 2018.


- Praia da Ponta do Mutá

            Chegamos por volta das 10:30 na Ponta do Mutá e lá já tinha pessoas se banhando e curtindo o mar. A maré baixa estava com uma boa cara para se banhar. As barracas de praia já podiam ser vistas patrocinadas pelas marcas de cervejas mais badaladas do mercado.

            A Praia de Ponta do Mutá é um dos melhores lugares para se banhar na Península de Maraú devido as suas águas calmas. Já tive a oportunidade e quando  o sol está escaldante as águas ficam quentes, sensação muito boa ao ponto de não querer sair mais do mar.


Imagem 20 - A caminho da Praia da Ponta do Mutá . Maraú, Bahia, 2018.


- Praia de Barra Grande.

            De Ponta de Mutá já dava pra visualizar Barra Grande e nesse trecho as barracas e casas luxuosas se destacam. Próximo ao vilarejo, Graziela e Eu observamos um camping aberto e solicitamos se poderíamos tomar um banho. O proprietário foi gentil e deixou, concluindo a travessia da costa leste da Península de Maraú, finalizando as 11:30 da manhã.

            A Praia de Barra Grande é o portal de acesso a Península de Maraú, onde está localizado o píer que atraca os barcos e lanchas que vem do município de Camamu/BA. A maioria dos turistas ingressa por ali, mas é possível seu acesso de carro, pelo péssimo trecho da BR-030, utilizado muito por pessoas que vem do Sul do Estado da Bahia.  Na Vila só conseguimos passagem de lancha para Camamu/BA as 13:00, tomando um chá de cadeira até o regresso.        

Imagem 21 - Praia de Barra Grande. Maraú, Bahia, 2018.


 CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Sendo bem objetivo, a travessia da Costa Leste da Península de Maraú da para fazer a pé, em dois dias, tranquilamente. Mas, para aqueles que gostam de curtir muito a paisagem, aconselho em fazer por três e duas noites, desfrutando bem de todas as praias, vale muito a pena.

            A respeito de desfrutar as praias, infelizmente, Graziela e Eu demos um pouco de azar, pois o tempo não oportunizou em da as condições seguras para curtir as praias, principalmente o banho de mar e a contemplação peculiar das águas da Península de Maraú, que do sul ao Norte se transforma das águas revoltas a calmaria.

            Aos que gostam de travessias litorâneas, realizadas a pé, a Península de Maraú é ideal e um roteiro inicial bem bacana para executar e se aprimorar para desafios maiores. 







[1] OS POBRES MOCHILEIROS. Ilha de boipeba, Cairu, Bahia, 2013. Relato disponível em: http://ospobresmochileiros.blogspot.com/2013/12/01-ilha-de-boipeba-cairu-bahia-2013.html

[2] OS POBRES MOCHILEIROS BA. Ilha de Tinharé, bahia, 2013. Relato disponível em: http://ospobresmochileiros.blogspot.com/2014/02/04-ilha-de-tinhare-cairu-ba-parte-01.html

[3] OS POBRES MOCHILEIROS BA. Garapuá, Ilha de Tinharé, bahia, 2014. Relato disponível em: http://ospobresmochileiros.blogspot.com/2015/07/05-garapua-ilha-de-tinhare-cairu-ba.html

[4]  OS POBRES MOCHILEIROS BA. Ilha dos Frades, 2015. Relato disponível em:  http://ospobresmochileiros.blogspot.com/2016/04/06-rl-ilha-dos-frades-salvador-bahia.html

[5] A 1° vez foi no acampamento do açu, localizada na trilha das Serra dos Órgãos/RJ; a 2° vez foi em alguns acampamentos no "topo" do Monte Roraima; 3° vez nesse acampamento na praia do Aimbim.

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Inicio esse blog com uma adaptação de um prefácio do livro Homens e Caranguejos, escrito pelo autor Josué de Castro (1908-1973), na perspectiva em mostrar ao leitor o que os relatos podem contribuir (ou não) em seu planejamento, em sua viagem, ou até mesmo na construção de um capitulo da sua vida.

" Nas terras [...] do Nordeste brasileiro, onde nasci, é hábito servir-se um pedacinho de carne seca com um prato bem cheio de farofa. O suficiente de carne - quase um nada- para dar gosto e cheiro a toda uma montanha de farofa feita de farinha de mandioca, escaldada com sal. Foi talvez, por força, deste velho hábito da região do Nordeste Brasileiro, que resolvi servir ao leitor deste blog, muita farofa com pouca carne. Sentido que a história que vou contar (através dos relatos), uma história magra e seca, com pouca "carne de emoção". Resolvi desenvolver os textos bem explicativo que engordasse um pouco desse blog e pudesse, talvez, enganar a fome do leitor - a sua insaciável fome de aventura e emoção - em busca de objetivos e ações na constituição de um "novo", uma mudança em suas práticas cotidianas, na concepção em viver os momentos e aproveitar o sentido da vida" (CASTRO, 1967).

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